Nesse episódio do FalandoTI dedicado à liderança, nosso CEO Renato Bolzan compartilha sua experiência e aborda questões super pertinentes sobre o mundo da inovação. Quais os maiores desafios da transformação digital e onde habitualmente mais se falha? E, claro, o papel da Invillia no meio disso tudo :-)_
Confira a entrevista completa_
Bem-vindo a mais uma edição do FalandoTI. Hoje temos como convidado o Renato Bolzan, que já tem muita experiência neste mercado. O Renato é o fundador e o CEO da Invillia, uma empresa de tecnologia fundada em 2003, o que para a área de tecnologia já é muito aprendizado.
Pois é, 2003 já tinha acontecido muita coisa. Na verdade, a minha relação com o mundo da tecnologia começou bem antes. Eu estudei ciências da computação e tive a sorte de pegar o início das operações de Internet no Brasil e participar na criação de várias empresas que até hoje existem e são bem relevantes no mercado.
Vocês assumem-se como uma empresa que atua no processo de inovação dos clientes. E então temos já a famosa palavra-chave que é a transformação digital. Queria saber para vocês, para a Invillia e para o Renato, o que é a transformação digital claramente?
Esse mercado da tecnologia adora buzzwords. A nossa visão sobre transformação digital de uma maneira muito simples é quando uma empresa consegue se recriar, se reinventar a todo o momento usando tecnologia, usando pessoas, alinhando a cultura dela com o que está acontecendo no mundo para conseguir ser mais ágil, mais ligada nas coisas que estão surgindo, nas mudanças que estão acontecendo no mercado e nos clientes que ela atende.
Então tem pouco a ver com tecnologia, não é?
Tem e não tem. A tecnologia é uma ferramenta dentro do processo todo. Mas não é só tecnologia.
Este ultimo ano foi muito complicado para todos. As empresas de tecnologia conseguiram dar a volta à questão, até porque foram fundamentais em todo o processo de digitalização, de transformação digital e de adaptação à nova realidade. Hoje qual é o maior problema que as organizações têm, qual a maior dificuldade quando pretendem abordar o seu caminho de transformação digital?
Esse é o tema em que mais se cria confusão. O mundo se transformou, a gente viu muitos negócios sumirem outros surgirem e outros crescerem exponencialmente. E o setor que eu acho que conseguiu caminhar melhor como você mesma disse foi o das empresas do mundo da tecnologia. De alguma maneira a gente vê isso refletido no mercado de ações e as empresas tendo um expressivo crescimento. No nosso caso, a gente sempre focou exatamente nesse mercado de empresas desse mundo digital. Para a gente foi muito interessante a puxada, o crescimento que a situação toda acabou gerando para o negócio. Mas quando a gente olha para uma empresa um pouco mais tradicional sob a ótica de transformação digital, ela está vendo o que está acontecendo no mercado e as empresas que têm um pé no mundo digital conseguindo performar dentro de todas as dificuldades do contexto e ela num modelo mais tradicional não conseguindo fazer. E aí o pessoal dizendo que temos que ir para o mundo digital e vamos fazer a transformação digital da companhia. É um pouco nesse caminho que o raciocínio acaba indo. Mas eu acho que tem várias armadilhas aí. O principal deles, e que eu acho que ajuda a fracassar muitos projetos de transformação, é quando a empresa está tentando fazer isso de fora para dentro. Ela simplesmente está tentando reagir a algo. Por uma necessidade talvez de sobrevivência ou de uma necessidade de olhar o competidor fazendo mais rápido. E quando a gente começa a falar disso e a ver os projetos que mais avançam e que têm mais sucesso é quando isso começa a surgir de dentro da companhia. Porque esse processo envolve correr alguns riscos, reinventar a empresa muitas vezes com produtos que talvez canibalizam o que exista, tem uma série de decisões muito complexas do ponto de vista de negócio que precisam ser tomadas. E uma vez tomadas precisam de ser compradas pela empresa e a empresa conseguir fazer com que as pessoas apoiem essas iniciativas e isso se transformar de facto na mola propulsora do processo de transformação. Tem muita empresa que talvez olhe isso de fora e diz vou trazer alguém aqui, uma empresa especializada em fazer transformação, eu acho que isso não existe. Na verdade a transformação começa de dentro para fora. Onde a empresa começa a perceber a necessidade de fazer a mudança porque o mercado dela mudou, o consumidor dela mudou, as condições mudaram e ela precisa se inspirar em alguma coisa para reconstruir ou recriar o negócio para aquele mundo novo.
Então penso que não concordará muito com aquela ideia que agora nos têm vindo a incutir que com a transformação digital fizemos em 3 meses o que não foi feito em 3 anos. Ou seja, houve uma aceleração do conceito de transformação digital dentro das empresas. Houve uma efetiva aceleração mas não é possível transformar digitalmente uma empresa de um dia para o outro?
Sem dúvida. Eu acho que houve essa aceleração sim. A gente viu muitos clientes que estavam no processo e talvez um pouco mais lento e quando teve essa situação aceleraram muito e tiveram bons resultados e estão colhendo os frutos desse negócio. Mas essas empresas, esses clientes que tiveram esse bom resultado, a necessidade foi comprada por dentro da empresa, a empresa entendeu que ela precisava implementar aquilo. Então eu concordo sim que muitas empresas fizeram em 3 meses o que não fizeram em 3 anos do ponto de vista de transformação digital, teve vários exemplos.
Neste processo onde é que habitualmente as empresas mais falham, qual o ponto mais fraco de uma empresa quando começa o seu caminho para a transformação digital?
Eu acho que quando a necessidade de fazer esse processo de transformação não parte de dentro, não é uma coisa que está genuíno ali da empresa. Ou seja ela contratou de repente um fornecedor para fazer o processo de transformação e está esperando que ele transforme a empresa. Quando alguma empresa tem essa expectativa, é onde os projetos mais falham. Porque não é isso. Quando você parte para fazer um processo desse tipo você está tentando recriar o negócio. Eu brinco às vezes que é como se fosse refundar a empresa. É você esquecer aquilo que te trouxe até ali e saber que o que te trouxe até ali não vai te levar mais adiante. Mas fazer isso de uma forma genuína. E não ficar agarrado. Esse para mim é o principal ponto de falha. O segundo ponto de falha é quando as empresas entendem que o processo de transformação digital é puramente tecnologia. E não é. Eu diria que é muito mais cultura do que tecnologia. Muito mais cultura. E cultura, para você transformar cultura de uma empresa, é algo que ela tem que estar muito aberta para fazer. Porque se não tiver essa abertura o processo falha. Ele vai até um ponto e falha. Existe muito, aconteceu movimentos muito fortes e virou muito moda, então as empresas mudaram o dress code, os funcionários podiam ir trabalhar de camiseta, bermuda, aí o escritório ficou mais colorido, todo mundo colocando post-it na parede, e estava no processo de transformação. É até engraçado pensar que muita empresa comprou essa ideia, que isso era o processo de transformação, e na verdade é muito mais complexo, isso é uma pontinha. Não é por alguém estar colocando post-it a parede e tentando falar coisas diferentes ou novas que a empresa está indo para um processo de transformação. É muito mais uma decisão de negócio e quanto você está disposto a comprar de risco e de mudar a cultura e de refundar a empresa, e refundar uma duas três quatro cinco vezes de sor necessário. É uma jornada. E não é um projeto. Um projeto tem um começo, meio e fim. Quando a gente entra num processo desse de transformação é uma jornada. E uma jornada é longa. Tudo vai depender de quão profundo você quer ser dentro dessa recriação.
A empresa foi criada no Brasil e escolheu Portugal como o ponto de entrada para a Europa. O Brasil é um país imenso, com oportunidades de negócio imensas, porque é que a Invillia olhou para Portugal como um potencial de negócio e o que é que uma empresa brasileira de tecnologia pode aportar à Europa, como querem marcar a diferença quer em Portugal quer no mercado europeu?
A Invillia começou a trabalhar exportando serviços em 2017, foi a nossa primeira experiencia de fazer a empresa cruzar as fronteiras do Brasil. O primeiro projeto foi para a Holanda. A gente está lá até hoje, exporta de Portugal para a Holanda. E a gente acredita que uma empresa que roda no segmento da Invillia tem que ter uma visão maior do que o país onde ela está. Hoje quando você fala de transformação, de inovação, de tecnologia, é uma coisa muito mais global do que regional. E o Brasil em termos de tecnologia e de mundo digital é uma referencia muito interessante no mundo. O Brasil andou muito nos últimos anos. Tem mostrado boas empresas saindo de lá e indo para a bolsa de valores, virando unicórnios e tudo o mais. E a gente vive isso no nosso dia a dia. E começou a sentir que na Europa muitas regiões ainda careciam de algum nível de serviço que no Brasil a gente já tinha atingido. E quando a gente começou a olhar o processo de internacionalizar e até por já ter um cliente europeu, decidiu começar pela Europa. É normal uma empresa brasileira desse segmento quando vai internacionalizar começar pelos EUA, por exemplo. O percurso mais natural é esse. Mas como a gente já tinha um pé aqui, com um cliente aqui, a gente decidiu começar pela Europa e entender um pouco mais esse processo. A Invillia é uma empresa em processo de transformação o tempo inteiro, ela própria se reinventa a todo o momento, e começou a perceber que o caminho pela Europa era um caminho viável e interessante. E quando a gente começou a olhar a questão de talentos de tecnologia, que é o grande calcanhar de aquiles das empresas hoje e o grande limitador do crescimento de muitas empresas, a gente começou a perceber que existiam lugares que tinham bons engenheiros, bons profissionais de produto, bons profissionais ligados a esse mundo digital, e que esses profissionais começaram já a se movimentar, e a cada momento estão morando em um país e um lugar. E aí a gente entendeu que Portugal seria um ponto central dessas movimentações. Tanto é que para a Invillia hoje no modelo em que a gente opera pouco importa onde as pessoas vivem. A gente tem colaboradores em mais de 150 cidades no mundo, em vários países, tem Brasil, Portugal, Polónia, Moçambique, Paraguai, México, Chile, e essas pessoas se movimentam, querem ter a experiência de morar em outro país, conhecer outras culturas que para o negócio em que a gente opera é fantástico porque essa multiculturalidade, essa vivência em um ambiente mais global, ajuda a gente a entregar uma solução muito melhor na ponta para o cliente, e Portugal ficou como centro disso.
Vamos a uma coisa muito prática, em que é que a Invillia ajuda as empresas?
A Invillia ajuda as empresas a pensarem nas inovações que elas estão construindo. A pensarem nos produtos, nos serviços digitais que elas estão produzindo. A gente consegue apoiar essas empresas desde a conceção desse produto, a construção e a operação dele na linha do tempo. É uma empresa que atua de ponta a ponta dentro desse tipo de solução. E é só especializada nesse tipo de cliente e de solução.
Hoje qual é o cliente tipo da vossa empresa?
Tem muitos clientes do segmento financeiro, a gente tem muito banco digital. Tem muita empresa de serviço de delivery, que envolva logística. Tem empresas de seguros, de varejo, tem vários segmentos. Mas todos esses clientes têm uma coisa em comum: ou eles operam 100% no mundo digital ou são corporações que estão num processo maduro de transformação.
A Invillia normalmente quando vai abordar um cliente quem é o vosso interlocutor? É o CTO, CIO, CEO, o executivo de negócio, o executivo de tecnologia, quem faz a ponte entre a empresa e a Invillia?
Essa pergunta é muito interessante e tem muito a ver com o processo de transformação. Era comum nesse tipo de empresa de IT ter como interlocutor o CIO das empresas. E O CIO na figura clássica era aquela pessoa que transformava, que executava um plano que as pessoas de negócio conceberam. Hoje uma empresa que é digital e que está num processo de transformação já não tem muito essa característica. Ela tem o pessoal de IT cuidando da infraestrutura para as coisas funcionarem, mas o manager/diretor de IT já tem outra dimensão. Ele está num grupo que define produto, que define negócio, que define estratégia. Então o nosso interlocutor acaba sendo esse C-level. E não só o representante da tecnologia. Hoje você vê muitas empresas que têm o papel de tecnologia e produto no mesmo diretor. O que faz muito sentido. Dantes era o diretor de marketing com o diretor de IT, hoje não. Hoje você começa a ver isso um pouco mais misturado e que acaba fluindo melhor. Quando você entra dentro de um cliente desses para fazer isso é uma jornada de transformação, é uma jornada de criação. E uma jornada não é um projeto, é algo que não tem um limite, não tem um fim. E por isso faz sentido estar todo o mundo junto.
Hoje em dia nesta fase do mercado, qual é a métrica que as empresas mais utilizam no processo de assinatura do contrato, ou seja, o que querem da Invillia? Querem que seja medido o retorno do investimento, o impacto no negócio?
Quando um cliente nos procura, ele quer que a gente participe de uma jornada de construção de um produto novo, de um serviço ou até mesmo de um produto que já existe. E essa jornada é apoiada em várias métricas de negócio definidas pela empresa que está operando o business. Quando a gente entra no cliente, acaba fazendo parte dessas métricas. E quando ele tem sucesso no produto ou no serviço que ele está construindo, é o nosso sucesso e é a medida do retorno que ele tem do investimento que está fazendo connosco. Essa é a maior delas. Mas existem várias outras que são métricas muito mais do dia a dia, de produtividade, de criação, de tudo o que você está conseguindo entregar de valor, que você está medindo e prestando contas com ele. Mas a métrica maior é o sucesso do plano de negócio dele.
Como vê o futuro próximo?
Do ponto de vista desse mercado de tecnologia, eu acho que as empresas têm que pensar muito de como elas se relacionam com as pessoas. Com o cliente está visto, é o que nós estamos vendo do mundo digital, se você ainda não está, estará ou desaparecerá, não tem outra alternativa. Agora eu acho que tem uma questão de como essas empresas estão se relacionando com as pessoas, a grande mudança está ali. O mercado de tecnologia é uma bolha dentro daquilo que a gente está vendo no mundo. As empresas estão numa disputa pelos melhores profissionais dentro dessa área de tecnologia. E esses profissionais estão escolhendo as empresas onde vão trabalhar. Elas têm que mostrar para eles que além de ser um bom trabalho, que tem uma remuneração adequada, que tem o desafio de carreira, essa empresa está alinhada com os objetivos de vida daqueles profissionais. Isso para muitas empresas mais tradicionais, que têm modelos de gestão mais antigos, é um grande dilema. Preciso conceder por exemplo o trabalho remoto para os meus colaboradores, mas como eu vou fazer, como vou medir? Então mudou a relação de confiança. Para você fazer isso, tem que ter uma relação, a pessoa tem que confiar na empresa e a empresa na pessoa. E você tem que ter medidas no trabalho de outras formas, que não seja quantas horas você trabalhou hoje. Eu acho que o grande desafio é entender qual vai ser a reconfiguração dessa relação entre colaborador e empresa. E as empresas que conseguirem ter uma cultura mais aberta, mais de confiança, mais de proximidade, mesmo à distância, são as empresas que vão conseguir performar melhor. E isso não digo só de tecnologia. As pessoas começaram a se questionar muito sobre o que é que importa para elas. A pandemia começou a mostrar um pouco dessas coisas. Eu tenho muitos amigos que deixaram de morar em grandes cidades, que já estão com planos de morar em um outro país, que estão querendo morar perto dos pais que já estão mais idosos. E aí como você concilia essa vida profissional com essas questões pessoais? Eu acho que esse é o grande desafio das empresas para a frente.
Vocês na Invillia têm que ter obrigatoriamente essa agilidade para com os vossos colaboradores, mas tentando aplicar tudo o que me disse na empresa, mesmo assim é complicado reter os vossos talentos?
Na Invillia, a gente pratica essa cultura mais aberta, a que chama de trabalho conectado, já há uns bons anos. Na verdade foi em 2017 quando a gente começou a aplicar esse modelo. Pré-pandemia 60% da operação já era distribuída e pós-pandemia a gente ficou 100%, mas foi super natural porque já tinha essa cultura. A empresa foi construída em cima dessa mentalidade e isso nos ajuda muito. É uma ferramenta muito interessante para reter os talentos, para ir buscar talentos em qualquer lugar do mundo, mas é um jogo constante de fazer avanços, de melhorar continuamente. Como atraio mais, como retenho mais. É esse o grande desafio das empresas de tecnologia, ser uma empresa que as pessoas querem de facto fazer parte, pelo conjunto de coisas. Pelo ordenado, pelos desafios, por como a empresa pensa, pelo tipo de cliente que ela trabalha, como ela funciona. Então esse conjunto ajuda muito a gente a ter bastante sucesso nesse aspeto.