Com o avanço da tecnologia, a maneira como interagimos tem mudado drasticamente. Passamos a nos comunicar mais pelo mundo digital do que pelo físico. A tecnologia não mudou apenas nossas interações, nossas rotinas, como formulamos ideias e tomamos decisões, ela mudou a sociedade como um todo.
Passávamos horas dentro de shoppings e livrarias, andávamos pelas lojas comparando preços de produtos… Hoje, esses hábitos passaram a ser muito mais uma questão de lazer do que de necessidade.
A transformação digital forçou as empresas a inovarem os modelos de negócio, mas não foram as empresas que conduziram o processo, foi a sociedade, conectada vinte e quatro horas por dia, demandando soluções de alto desempenho, informações precisas, relevantes e instantâneas, a qualquer hora, em qualquer lugar e de qualquer dispositivo.
Recentemente, com a pandemia Covid-19, as pessoas começaram a procurar formas alternativas de seguir com suas vidas, o que acelerou ainda mais esse processo. Plataformas como YouTube, Facebook, Instagram e Zoom passaram a preencher essa necessidade de contato humano em tempo real, respondendo aos desejos dos clientes e usuários, cada vez mais inquietos por rápidas interações.
Um exemplo de plataforma que surgiu por conta dessa demanda por conteúdos mais curtos foi o TikTok. A ideia é permitir a gravação, edição e compartilhamento de vídeos curtos direto do celular. Mas essa não é uma característica exclusiva dessa plataforma. Vivemos na era da rapidez e do imediatismo e a cultura de consumo rápido de conteúdo atinge as pessoas de todas as classes sociais e idades.
Se por um lado essas plataformas ajudam a suprir nossa necessidade de conexões, alguns efeitos colaterais de seu uso excessivo ficaram evidentes. Trata-se de um efeito chamado “infoxicação”, um termo criado pelo físico espanhol Alfons Cornellá originado pela junção das palavras informação e intoxicação, resultado da hiper conectividade, que tem como sintomas estresse, cansaço, fadiga e impaciência.
Isso acontece porque o cérebro, por não ter pausas no consumo de conteúdo, não consegue suportar o número de novas informações. Grécia Augusta, gerente de marketing de uma empresa de Sorocaba, interior de São Paulo, disse em uma entrevista dada para a revista Cláudia – em uma matéria escrita por Isabella D’Ercole, publicada em 19 jun 2021 chamada “Áudios e vídeos acelerados: como o ritmo da internet aumenta a ansiedade” – que percebeu os primeiros sintomas quando passou a se incomodar com conversas que aconteciam presencialmente – “As pessoas pareciam estar falando devagar”, afirma Grécia. Ela disse que a alteração de sua percepção aconteceu após adquirir o hábito de ouvir áudios de WhatsApp em velocidade acelerada.
Mas como equilibrar a demanda crescente por entregas de serviços e produtos que nos conectam de forma ainda mais acelerada sem sobrecarregar os usuários?
A resposta está em um compromisso ético pela criação de produtos que reduzam o tempo de tela, protegendo nossas mentes de distrações e sobrecarga de informação. O “ethical canvas” é uma ferramenta que pode auxiliar na criação de produtos que geram engajamento sustentável, aumentando a conscientização para as questões e riscos associados à hiper conectividade e dependência, por meio da identificação e minimização de impactos negativos.
Ações éticas vêm moldando a forma com que produtos e serviços são oferecidos, essa nova consciência pode ser vista em iniciativas como a da Google, que recentemente criou um sistema de controle de uso para a plataforma Android. A ferramenta permite cronometrar a utilização dos aplicativos, exibindo de forma detalhada quanto tempo o usuário passa em cada um deles, alertando para a necessidade de pausas.
Se por um lado a “infoxicação” é a doença, a desintoxicação passa por uma reflexão sobre a cultura de produtos orientada apenas a números. Essa nova consciência na criação de produtos digitais vem ganhando forças com iniciativas como a da Google. Entregando soluções sustentáveis e saudáveis para clientes e usuários, que verdadeiramente gerem valor, permitindo que eles atinjam seus objetivos sem passar horas em frente à tela, é que teremos os benefícios de uma relação comercial sustentável.
Por Mateus Ignácio, Product Owner na Invillia