Se você não pode participar da edição 2019 do Scrum Gathering realizado na cidade do Rio de Janeiro (e esta foi a maior edição até o momento), traremos um artigo por dia com a cobertura dos melhores insights das palestras, workshops e keynotes.
Terceiro dia – 29 de Junho de 2019
O terceiro e último dia do evento Scrum Gathering Rio foi organizado entre keynotes no período da manhã, e open spaces no período da tarde. Iremos concluir essa grande jornada de 3 dias com um resumo do Keynote de Joseph Yoder, que abrilhantou o sábado aqui no Rio de Janeiro trazendo a visão do ágil sob um ponto de vista pouco explorado: o do desenvolvedor! Do Marcio Ballas, que de uma maneira extremamente humorada e cativante, trouxe os conceitos de improviso e criatividade e como busca-los e aplica-los no dia a dia. E por fim, do Breno Luz, que trouxe o tema da Transformação Ágil de um gigante.
Keynote Deliver Value with Confidence: Reconnecting Developers with Agile, por Joseph Yoder
Joe Yoder trouxe um tema bastante pertinente ao trazer luz ao lado mais técnico em um evento de agilidade – em que geralmente predominam temas relacionados à gestão, metodologias, negócio e produto.
Dentro desta reflexão, contou uma história ‘bonita’ de sucesso, em que o pilar técnico não foi devidamente considerado numa jornada típica de desenvolvimento de um produto que experimenta um crescimento exponencial. De maneira peculiar, ilustrou o que seria uma possível consequência:
Com esta imagem bastante provocativa, trouxe o termo “Big Ball of Mud”, que nada mais é do que um emaranhado técnico de complexidade e dependências que foram sendo construídas sem o devido preparo ou planejamento – o também chamado “Spaghetti Code” – uma herança técnica que poderá trazer consequências muito graves na continuidade de crescimento ou escala do produto.
Na sequência, Joe apresentou uma série de Mitos do Ágil/Lean:
- “Simple solutions are always best”
- “We can easily and quickly adapt to evolving requirements (new requirements)”
- “Scrum/TDD/Agile process will ensure good Design/Architecture”
- “Good architecture simply emerges from “good” development practice”
- “You always go fast when doing agile/lean”
- “Make significant architecture changes at the last moment”
Ao trazer essas colocações, Joe discursou sobre a ênfase que se dá, dentro dos papéis de um time ágil, aos Product Owners, Agile Scrum Masters, Agile Coaches, Directors, Tech Leads, etc. – mas o papel específico do Desenvolvedor muito raramente é tratado – e este têm um papel fundamental na construção do produto – o que Joe chamou de “Gap between Agile and Developer” – e nos convidou literalmente a construir uma ponte para quebrar esse ‘gap’.
Algumas dicas muito importantes destacadas pelo Yoder:
- Não criar o desenvolvedor ‘super-herói’;
- Quality Assurance/Automate as You Go: agora, e não ‘para depois’;
- Disciplina de Continuous Delivery agora, e não ‘para depois’;
- Primeiro princípio derivado do Manifesto Ágil:
- “Our highest priority is to satisfy the customer through early and continuous delivery of valuable software”
Ainda complementando, Yoder expandiu os conceitos ou aspectos de qualidade sistêmica:
- Performance / Performance
- Security / Segurança
- Scalability / Escalabilidade
- Availability / Disponibilidade
- Reliability / Confiabilidade
- Maintainability / Capacidade de Manutenção (não há uma palavra de tradução direta do termo)
- Evolvability / Evolutividade
- Testability / Testabilidade
- Deployability / Implantabilidade
E sobre débitos técnicos:
- “Some dirt becomes very hard to clean if you do not clean it right away!”
- Algumas ‘sujeiras’ vão se tornando muito difíceis de limpar se não o fizer do jeito certo!”
O próximo ponto que Yoder trouxe foi “How can we improve what we canoot see?” (Como podemos melhorar aquilo que não podemos ver?) – e sobre esta questão, discursou sobre o conceito de Information Radiator, que prega que de maneira colaborativa, manter artefatos de informação visíveis para todos os stakeholders.
Outros tópicos trazidos que complementam a jornada:
- Continuous Inspection
- Cobertura de Testes, Dependências cíclicas, Débitos Técnicos, Tamanhos, Pontos de Checagem de Segurança, Conformidades de Arquitetura, etc..
- Automate where you can!!
- Transparência
- “É necessário existir uma ótima ponte entre Tecnologia e Negócio”
- Aprendizado, Compartilhamento, Ciclo de Feedback rápido, Comunicação, Trabalho e equipe e confiança, melhoria contínua e satisfação das necessidades dos stakeholders.
- “Tech Backlog ties into business values”.
- Slack Time
- Folgas nas esteiras de entrega são necessárias para aprimoramento de qualidade e inovação!
- Como? Monitorando e tornando esse tempo visível e reduzindo desperdícios
- Dentro do modelo Spotify, isso é tratado no ciclo: 1) Think it; 2) Build it; 3) Ship it; 4) Tweak it.
- E apresentou duas sugestões de leitura:
- Slack, de Tom DeMarco;
- Thinking, Fast and Slow, de Daniel Kahneman.
E já se aproximando do término da sua apresentação, Yoder apresentou um slide “Being Agile”, em que defende que dentro das escolásticas do “planejamento Upfront” e o extremo do “não planejamento”, ser ágil é identificar o equilíbrio correto que permita:
- Um planejamento adaptativo;
- Balanço correto entre design e arquitetura;
- Ser ‘Agile’ de verdade!
E concluiu com alguns insights sobre esta jornada:
Keynote Improviso e Criatividade, por Marcio Ballas
Tentar traduzir em palavras a experiência e atmosfera que o Marcio Ballas criou em seu keynote é um grande desafio, e para tanto, iremos trazer a parte mais conceitual – o modo como Marcio colocou os conceitos é uma experiência muito rica, envolvente e humorada, e que dificilmente seria capaz de ser transcrita!
Após contar um pouco da sua trajetória (de vida e profissional), Marcio introduz o conceito de criatividade convidando os participantes a se avaliarem de 1 a 10 o quão criativo se sentem ou percebem. A média geral dos participantes na auto avaliação ficou na média 6 (numa contagem absolutamente intuitiva e visual) – e com base nisso, Marcio iniciou a sua jornada conceitual, não sem antes dizer que geralmente nos pontuamos abaixo do que de fato realmente costumamos ser, por costumamos ser bem críticos sobre si mesmos.
Pontos chave colocados pelo Ballas, através de slides bem criativos:
- Nascemos criativos;
- Quando pequenos, somos estimulados a exercer a criatividade, sem julgamentos;
- A medida que crescemos, o ambiente vai ficando ‘menos propício’, mais formal e menos aberto.
E com isso, aos poucos o ser humano vai cerceando sua capacidade criativa – mas reforça que ela continua lá, latente, esperando a oportunidade para aparecer!
A partir deste ponto, Ballas entra no que ele denomina “capaSIMtação” – ou capacitação do SIM!
O sim é ACEITAR:
- Sem filtro
- Sem julgamento
- A situação
- O contexto
- Trabalhar com o que temos
E eliminar o NÃO:
E uma reflexão entre o SIM e o NÃO:
Na sequência, entrou nos domínios do IMPROVISO – em que se preocupa bastante em diferenciar esse conceito de GAMBIARRA.
Em sua definição de improviso, nos apresentou:
- REARRANJAR CONHECIMENTOS
- COMBINAR DE FORMA DIFERENTE
- FAZER O MESMO, DE OUTRO JEITO
E para que isso seja possível, é necessário sempre exercitar Adaptação e Flexibilidade. E o mais importante: para improvisar, você precisa dominar amplamente o assunto!
O trabalho em equipe e a cocriação são ingredientes essenciais no processo criativo – cada ser humano é único, tem a sua história, experiência e visão únicos! E o SIM, a aceitação, devem partir de cada membro do time para que as ideias fluam e amadureçam – ter espaço para errar e experimentar!
Keynote Transformação Ágil do RH de uma gigante, por Breno Luz
Uma experiência enriquecedora foi entender a jornada de transformação do RH da gigante Itaú, com erros, aprendizados e insights, já que atualmente estamos vivendo múltiplas transformações, como por exemplo hábitos dos clientes, expectativas dos colaboradores, tecnologias disponíveis e ambiente competitivo.
Essencialmente, a transformação do processo foi devido a fatores, tais como:
- Diminuição do índice de satisfação dos clientes internos (queda nos últimos 5 anos);
- Índice de satisfação dos próprios colaboradores de RH estava abaixo do esperado, com relação a visão geral do Banco, em questões como: “Equilíbrio entre necessidades pessoais e profissionais (Banco 85% – Área 70%)” e “Consigo realizar minhas atividades dentro do horário de Trabalho (Banco 78% – Área 52%)”
- Alto volume de demandas sem governança formal estabelecida, pois havia colaboradores chamados comumente de Business Partner, divididos entre demandas de consultoria e produto, atendendo a toda organização, e não atuando como time único.
A princípio, a nova forma de atuação da Diretoria Executiva de Pessoas foi o desenvolvimento de 4 passos:
- Criação de 3 verticais orientadas ao negócio do Banco
- Reorganização das áreas de Produtos em horizontais de especialização
- Especialização nos negócios
- Governança: Gerenciamento de demandas, priorização e avaliação de performance
Para tanto, as diretrizes alinhadas e todas as novidades envolvidas foram comunicadas em um evento com todo time de RH, que passam de 550 colaboradores, no final de 2017, divulgando a nova estrutura organizacional, processos de governança e priorização, mudança até mesmo no layout, tudo isso na tentativa de mudança de mindset.
Mas nem tudo são flores! Passados 6 meses, fizeram um pitstop e foram observadas questões como falta de clareza de papéis e responsabilidades, a mudança de layout não os fizeram trabalhar diferente, e ainda tinham uma lista de 750 projetos. Será que a priorização funcionou?
Chegou a hora de um ajuste de rota! Já haviam escutado as pessoas exaustivamente, e não havia espaço e nem interesse para dar how back, então criou-se um time multidisciplinar que vivencia o ágil para a cuidar da mudança no RH. Realizaram workshops para escutar gestores e times sobre a evolução da área, simplificando suas diretrizes, mudando seus incentivos, comunicando mais e melhor.
Tiveram a cereja do bolo! Capacitaram todos os colaboradores de RH na metodologia ágil, definindo um time de agile coaches e criação da jornada ágil. Em parceria com K21, a estratégia da jornada ágil tinha como premissas times estáveis, liderança alinhada e métricas básicas estabelecidas.
Mas existe receita de bolo? A resposta é não, certamente, mas o Itaú identificou steps de aprendizagem com os experimentos iniciais, o que foi denominado de jornada ágil.
- Propósito: aplicado nos times como dinâmica para consenso e métricas, além do team bulding.
- Gestão visual: Para todas as verticais, foi implantada gestão visual com board Kanban, exibindo itens como fura-filas, gargalos, esperas, destaque para atividades não resolvidas acima de 10 dias, entre outros.
- Cerimônias e priorização: aqui, a principal dificuldade é a mudança de mindset. Já imaginou uma daily, review ou retro para o RH? Pois isso começou por lá, e principalmente com o entendimento do que precisa ser planejado.
- Métricas: só melhoramos o que medimos? Exato. Começaram a medir o índice de atividades concluídas X total (houve melhora significativa com o tempo), além das atividades planejadas concluídas em comparação às atividades fura-fila concluídas. Este último, queda drástica ao longo do tempo, a tão esperada priorização começa a ter significado real.
- Time: devemos cuidar das nossas pessoas! Houve a definição de papéis e responsabilidades, capacidade de entrega, especialidades necessárias e capacitação nos papéis.
- Cliente: Ele vê valor nas entregas do time? Passou a acontecer essa aproximação entre RH e cliente nas próprias cerimônias, com a participação destes, sendo essencial colher feedbacks continuamente.
- Melhoria contínua: por falar em contínuo…devemos tornar o time protagonista e mantê-lo engajado. Estratégia de melhoria contínua do Kanban, refinamento e aplicação de PDCA.
Quando o time já está aplicando, é chegada a hora de capacitação de um team leader, que garanta a continuidade das práticas da metodologia do time, com acompanhamento agora apenas pontual do Agile Coach. Foi importante começar a jornada, mas é essencial ter método para transformar!
Lições aprendidas: ouvir sempre, engajamento da liderança, aprender continuamente com o ágil, ajuste de rota, medir para saber se estamos no caminho, cuidado e atenção às nossas próprias pessoas.
Considerações finais
Após os keynotes do período da manhã, os “open spaces” tomaram conta das salas, oportunidade para que qualquer participante trouxesse um tema para apresentação. A experiência de troca foi bastante intensa e o networking também.
Tivemos a oportunidade de revisitar a palestra de Squad Healthcheck para os que perderam a palestra oficial e acabaram se interessando pelo tema após conheceram o artefato em nosso stand.
O sentimento que ficou do evento é de muita troca de conhecimento, oportunidades de conhecer pessoas que só conhecíamos através de artigos e publicações e aumentar ainda mais a rede de contatos. A organização, espaço, ideias, coffee breaks, qualidade da Internet, tudo muito digno de nota, o que nos leva a parabenizar os organizadores desse grande evento!
Por Saulo Esteves.