Neste artigo, você conhecerá os 5 princípios organizacionais disseminados no Manifesto das Organizações Responsivas. Tais princípios, lançam bases para que as empresas se tornem além de evoluídas tecnologicamente também evolucionárias, ou seja, capazes de responder e prosperar no elevado dinamismo atual do mercado.
Organizações Responsivas existem, mas é muito provável que você trabalhe em uma organização que ainda opere em um formato que se consolidou no início do século XX, diretamente da Era Industrial.
Essas raízes são profundas na grande maioria das empresas, pois estas buscam estabilidade e eficiência através de planejamentos ostensivos, controles e muitas ‘previsões’. Nosso presente é líquido e o futuro nunca foi tão imprevisível. O dinamismo atual dos mercados criou uma tensão muito forte e uma ruptura para este modelo organizacional, e como disse um dos founders da HP, Dave Packard:
“Morrem mais empresas por indigestão do que de fome”.
O grande buzzword do momento é Transformação Digital, que em sua essência traz a disciplina da Tecnologia como pilar fundamental para qualquer negócio – como se esta fosse a receita infalível para que todas as empresas possam se perpetuar.
Sim, é verdade, porém, não definitivo. O grande desafio das empresas de fato é se tornarem evolucionárias. Ou seja, empresas que prosperam em ambientes menos previsíveis e capazes de digerir rapidamente o dinamismo do mercado. Ou ainda, criar um DNA interno que aspira inovações e tendências, capazes de criar mercados. A tecnologia é uma variável importante em apoiar uma empresa evoluída. Mas será falível se a empresa não for evolucionária.
O Manifesto das Organizações Responsivas
De acordo com a entidade Responsive.org, que publicou o Manifesto:
“Organizações responsivas são construídas para aprender e responder rapidamente através do fluxo aberto e contínuo de informações; encorajando experimentações e aprendizado em ciclos rápidos; e organizadas como uma rede de colaboradores, clientes e parceiros motivados por um propósito compartilhado.”
Tão desafiador quanto criar uma organização responsiva, transformar uma já existente talvez seja um pouco mais complexo. Isto porque, é necessário realizar transformações a nível estrutural e cultural.
O Manifesto por si só é bastante reducionista nos conceitos, e bem-sucedido em trazê-los de forma precisa e objetiva. Contudo, não se deixe enganar porque a aplicabilidade deles é bastante complexa.
Vamos refletir sobre os 5 princípios do Manifesto das Organizações Responsivas:
Princípio 1: Propósito (Purpose) > Lucro (Profit)
Começando pelo o que pode parecer mais polêmico num primeiro momento, já que as empresas precisam do lucro para sobreviver. Esse princípio está relacionado diretamente ao perfil consumidor atual. Tal perfil de consumidor nem sempre opta pelo produto com características melhores ou o ‘mais barato’. Mas sim, leva em consideração aspectos mais holísticos em relação a empresa ou grupo de empresas responsáveis pelo mesmo.
Muitas decisões empresariais, se levadas apenas sob a premissa básica à potencialização de lucro (em detrimento de questões ambientais, sociais etc.), podem levar à uma interpretação e julgamento perante seus consumidores. Por conseguinte, isto pode comprometer a forma como essa organização é vista. Em certos casos, arruinar até mesmo sua reputação ou participação no mercado.
Os consumidores atuais avaliam de forma holística o produto, incluindo a organização responsável pela produção dele. Faz parte da tomada de decisão de compra atual a identificação destes consumidores com a missão, propósito e valores de quem é responsável pela produção/venda do produto.
Princípio 2: Empoderamento (Empowering) > Controle (Controlling)
Centralização de tomadas de decisão, departamentalização, processos rígidos e aversão a risco. Isso torna qualquer mudança de direção demorada e burocrática. Vivemos em um ambiente onde o acesso as informações é cada vez maior. Isso dá as pessoas maior percepção, e consequentemente, mais capacidade para a tomada de decisão.
Ao invés de controlar as pessoas por meio de processos, sugere-se capacitá-las para tomarem as melhores decisões. Assim, evita-se o grande lead time hierárquico entre o estratégico e tático. Isto, desde que a missão e propósito estejam bem claros.
Princípio 3: Experimentação (Experimentation) > Planejamento (Planning)
Cumprir o prazo e seguir à risca um planejamento ou desenvolver o produto certo? Gastar meses no planejamento ‘perfeito’ ou investir esse tempo desenvolvendo e testando iniciativas (fail fast)?
Estar aberto a experimentações necessita inspirar e capacitar pessoas a atuar como times multidisciplinares/Squads (quebras de silos), dar a autonomia necessária (princípio 2) e aumentar o apetite a risco. Aceitar a jornada de descoberta no formato incremental é evitar o desperdício de tempo e recursos em grandes apostas binárias. Fracionar o risco de um projeto de 12 meses em vários incrementos mensais por exemplo, e ter a oportunidade de ajustar a rota com o aprendizado da jornada.
Acomodar visão de longo prazo, mas progredir através da experimentação e iteração – este é o desafio do princípio 3.
Princípio 4: Redes de Colaboração (Networks) > Hierarquias (Hierarchies)
O modelo piramidal hierárquico responsável por trazer as organizações até aqui, pode não ser mais preponderante para levá-las adiante. Se antes a boa formação de pessoas era limitada, atualmente, a maioria possui acesso à informação. Desta forma, a centralização do poder de decisão desperdiça todo o potencial humano da organização.
A hierarquização, de acordo com o Manifesto das Organizações Responsivas:
“Resultou em ordem, clareza de autoridade, classificação e poder. Eles reforçaram uma conexão primária única: gerente para trabalhador, e possibilitaram um estilo de liderança de comando e controle que foi terrivelmente bem-sucedido durante a era industrial.”
Cada ser humano é um receptor de informações, e a organização deve ser capaz de potencializar sua própria percepção criando um ambiente em que todos os seus colaboradores possam contribuir com a jornada. Os novos modelos de auto-organização e colaboração, assim como sugere o Management 3.0, tendem a gerar mais resultados no médio e longo prazo, porque mais conexões entre pessoas são geradas.
Princípio 5: Transparência (Transparency) > Privacidade (Privacy)
A informação sempre foi um grande ativo – e ao mesmo tempo, nunca foi tão abundante e acessível. Embora essa abundância seja positiva, ela também dificulta a interpretação e segmentação das que serão úteis para o negócio.
Seguindo os princípios de Empoderamento, Experimentação e Redes de Relacionamento, o acesso a informação se torna fundamental para que pessoas e times sejam capazes de performar sua jornada. Do Manifesto, extraímos:
“Nesse mundo de informações e conectividade abundantes, os benefícios potenciais de confiar em pessoas que compartilham o propósito da organização de agir de acordo com a situação, frequentemente superam os riscos potenciais de que informações abertas sejam usadas de formas contraproducentes.”
Devemos esperar uma estrutura organizacional se comportando como um autêntico organismo vivo. Com o máximo de touch points inteligentes com o ambiente complexo e dinâmico em que está imerso.
Reação e adaptação rápidas são fundamentais para a sobrevivência! Organizações Responsivas são cada vez mais almejadas!
Conclusões
Percebe-se que a essência destes 5 princípios é bastante fácil de compreender, porém, de difícil aplicação. O fato é que cada um deles tem um papel fundamental para que as organizações, mesmo grandes, sejam capazes de operar e navegar com mais agilidade sobre a alta dinamicidade dos mercados – e quanto maior a empresa, maior a dificuldade de tornar sua estrutura de tomada de decisões ágeis o suficiente para não perder as janelas de oportunidades, cada vez menos tolerantes à atrasos.
Se a transformação digital trata com mais ênfase a disciplina de tecnologia, de nada adianta a organização ser evoluída em suas bases tecnológicas se ela não for evolucionária ou responsiva – por isso considero o conceito mais amplo que o zeitgeist*da transformação digital.
Mais do que um playbooktípico sobre como fazer mudanças, esse Manifesto nos trás uma reflexão profunda sobre a forma como operamos empresas, e a que tensões este modelo está sendo submetido hoje. São apenas 5 princípios, mas que se levados a sério, podem provocar uma revolução – assim como o Manifesto Ágil, também sob sua singela simplicidade, trouxe para os modelos de desenvolvimento de software.
Leia na íntegra o Manifesto das Organizações Responsivas (em inglês), a partir da sua página oficial: https://www.responsive.org/manifesto
Por Saulo Esteves, Estrategista Digital da Invillia.
*zeitgeist: termo em alemão que significa ‘espírito de época’ ou ‘espírito do tempo’, e é muito utilizada para ilustrar momentos bem tipificados de determinados momentos da história.
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